sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Chuva e Heaven Hill

Hoje foi um dia curioso... Com muita chuva e muita reflexão.

Ao sair do quarto, dei de cara com os Himalaias. Aqui, eles são muito mais aparentes do que na primeira escola. Não durou muito tempo porque logo ficou nublado, mas deu para ver um pouco.

Começamos o dia com uma dinâmica de grupo, entre os voluntários. Fizemos, em grupo, a meditação Hare Krishna. Claro que escolhemos sentar em um lugar que tivesse vista para as montanhas. A dinâmica durou uns 30 minutos. E foi bem bacana. Quando terminamos, que eu abri os olhos, tinham algumas crianças paradas olhando para nós...

Como a escola está na semana de provas / exames, não adiantava chegar lá cedo. Então, fizemos um tour com Shamser (sim, o "big boss" estava conosco) pela redondeza e aprendemos algumas coisas interessantes:

• A casa em que estamos dormindo é típica nepalesa, um único cômodo, redonda, feita de pedras. O bacana é que as camas estão dispostas de forma circular, com isso todos conseguem ver e interagir com todos. O banheiro fica em outra casinha, do lado de fora. 

• O lugar em que os voluntários ficam não é dentro da escola, como em Marigold, é em outro complexo de construção a uns 8 minutos da escola. A construção principal, onde comemos e onde fica a área de convivência, é onde Shamser nasceu e mora até hoje. 

• Perto tem um vilarejo bem pequeno, e mesmo assim tem umas 3 pagodas e 1 estufa pequena budista. Uma dessas pagodas é Radha Krishna Temple, acho que por isso a dinâmica no início do dia foi tão forte. 

• Além dessas 3 pagodas, pelo que entendi alguma família real nasceu e viveu na região. Com isso, passamos também por um pequeno Palácio Real com sua praça, Lamjung Durbar, e seu próprio templo, Lamjung Kalika Temple. Ou seja, comprovamos mais uma vez como no tempo em que Nepal era formado por vários reinos, cada um tinha sua praça (Dubar), com seu Palácio Real e complexo de templos. 

• No caminho passamos por um riachozinho MUITO fofo! Nele, tinha uma estrutura de concreto onde os reis/rainhas se banhavam.

Chegamos na escola, a Heaven Hill. A estrutura é completamente diferente da de Marigold. Eu diria que é mais "armengada" (gambiarra, para os não baianos). Isso porque o terreno é menor e deu a impressão que as coisas foram sendo construídas aos poucos, nos espaços que existiam. Fatos curiosos:

• Hoje a escola tem umas 230 crianças. 

• No passado houve uma enchente imensa perto da escola, no caminho de um vilarejo, durante a qual algumas crianças pequenas morreram porque estavam indo a pé e sozinhas para a escola, e era muito pequenas pra poderem "se salvar". Com isso, Shamser construiu um jardim de Infância pequeno nesse vilarejo para que os pequenos não precisem ir andando até a escola e correr o mesmo risco. Quando eles crescerem, vão para o Heaven Hill. 

• A escola possui 3 alunos com síndrome de Dow e 1 aurista. Antes, essas crianças ficavam, literalmente, presas dentro de casa pois ninguém sabia como lhe dar com ela. Shamser convenceu as famílias para levarem as crianças à escola e hoje elas são integradas.

• Hoje Shamser está tentando construir uma biblioteca na escola. Ele já montou a estrutura mas, como está sendo construída com dinheiro próprio ou doações esporádicas, a construção está lenta. A ideia é tê-la aberta 24 horas, todos os dias. Durante o período escolar, abrir apenas para os alunos da Heaven Hill e, nos outros horários, abrir para a comunidade.

Fizemos a aula sobre Primeiro Socorros. Foi bem mais interativo do que na primeira escola. Depois ficamos sabendo pelo Ben (o americano voluntário que também estava em Marigold) que aqui na Heaven Hill as crianças falam inglês melhor e estão mais acostumados com estrangeiros voluntários. Voltando para a aula, foi divertido pois desta vez chamamos diversos alunos para simular cada uma das situações. No final, chamamos um dos professores, e os alunos riram horrores!

De lá fomos para a sala dos pequenos. A sala é LOTADA, e pequena! Mau aparecemos e já nos chamaram para participar, interagir, dançar... Uns queridos!

Por fim, não podia faltar: aqui também tem o "processo disciplinar", mas um pouco diferente. Tem uma outra música no lugar de "cabeça, ombro, joelho e pé", a segunda música é Macarena igual à Marigold e, na parte dos movimentos, a sequência é diferente (sim acompanhei tantas vezes que consegui identificar diferenças... KKKKKK).

Voltamos para almoçarmos com o intuito de à tarde retornar à escola para começar a pintura. Quem disse? Caiu um toró, uma chuva absurda, que não tinha condições de ir para a escola e/ou de fazer qualquer atividade lá. Com isso, fomos todos para a casa redonda, fizemos outra dinâmica de grupo e jogamos alguns jogos divertidos.

De noite, após o jantar, o grupo de mães da escola foram lá para fazerem uma apresentação para nós. Foi interessante, até que depois de 30 minutos vimos que seria sempre a mesma música, com apenas 1 dançando (elas se revezavam), e a dança também sempre a mesma... Aí, para mostrar algo em português / do Brasil, dançamos "Olha a Onda" (MICOOOO). Sabemos que é antiga, mas é uma música / dança que todos sabiam e é boba, não afetaria eles ou a cultura nepalesa... No final, elas trouxeram um presentinho para nós: pintaram nossas testas e colocaram um lenço no nosso pescoço. Ainda não sei o significado disso, mas foi bem bonito e bacana!

Clara, escrevendo sobre o dia 23 de setembro de 2022, sexta-feira.

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