sábado, 24 de setembro de 2022

Pintura, almoço e desafios

O dia amanheceu com uma chuva absurda... Estava chovendo desde a madrugada, sem parar. Acordei umas 05:30 por causa da chuva e não consegui dormir mais. O curioso foi quando por volta das 6:30 veio um barulho super forte (não lembro se trovão ou chuva no telhado), todos acordaram e não voltamos a dormir!

Ficamos fazendo hora para ver se a chuva amenizava para irmos para a parte onde comemos. Estava chovendo tanto que a maioria (incluindo eu) nem teve coragem de ir ao banheiro. Lembram que eu falei ontem que o banheiro fica fora? Pois então, e estava tudo muito cheio de lama...

Quando a chuva amenizou um pouco, subimos para tomar café da manhã com o resto do grupo. Joel fez panqueca para nós, e estava uma delícia!!! Passamos o resto da manhã na área de convivência, não fomos fazer a trilha que estava programada por causa da chuva, e sábado a escola estava sem aulas.

Por volta das 11:30 vivenciamos mais uma experiência maravilhosa: fomos almoçar em uma casa tipicamente nepalesa, com uma família local. O cardápio foi o tradicional Dal Bhat, com frango! Comemos todos sentados, descalsos e de mão (direita), como manda a tradição. Sim, a comida tinha guere guere, mas comi boa parte! Alguns fatos interessantes tanto da casa quanto da família:

• A casa não tem nada de cimento. Segundo Shamser, as casas típicas nepalesa mais antigas  são assim, construídas apenas com material natural (barro, palha, etc). 

• A família tem vários animais, tanto de estimação (coelho, pombos) quanto para alguma finalidade relacionada à comida (cabra, búfalo, frango...). O curioso é que eles tem uma casinha para os pombos dentro de casa!

• Nas casas clássicas com um ou no máximo 2 cômodos, eles dormem "na" cozinha, para ficarem perto do fogo e se aquecerem no inverno.

• Enquanto estávamos lá, só estava a dona da casa, quem fez a comida (não consegui entender o nome dela) e o sogro dela. Na casa moram 5 pessoas e ela estava nos contando que ela se casou por amor, não casamento arranjado. Por isso não teve festa / celebração e ela e o marido tiveram que "fugir", passar um tempo fora até que a comunidade e família aceitassem a união.

Depois dessa nova imersão cultural, fomos para a escola trabalhar! Hoje, com os alunos fora, fomos pintar a faixada de uma das construções. Além da parede, minha blusa e minha calça também estão bem pintadaa... KKKKK A primeira eu trouxe exatamente pra isso, e vai ficar. Já a segunda, vou ter que dar um jeito depois de limpar!

Ao terminarmos, voltamos para onde estamos dormindo, tomamos banho, jantamos e ficamos todos jogando UNO até umas 22h...VÁRIAS risadas!

Até hoje eu não tinha falado sobre um dos maiores desafios que estou tendo aqui no projeto porque eu queria dar destaque às experiências boas, à viagem em si. Mas hoje preciso compartilhar... A convivência com os bichos e insetos realmente é algo que tem que aceitar e seguir em frente. Desde os que estamos acostumados (baratas, mosquitos, aranhas, mariposas, bicho de chuva - não lembro o nome), até os não tão comuns assim (ratos, sanguessugas, lesmas "gigantes")... Alguns deles estão no quartos, outros nos banheiros, outros nos caminhos. Eu já tive a experiência tanto de ir ao banheiro quanto de tomar banho olhando para a lesma gigante, já matei algumas aranhas diferentes, além de participar das caçadas no quarto. Temos que fazer sempre a inspeção no banheiro antes de entrar, já pegamos uma sanguessuga subindo no vaso. Resolvi falar sobre isso porque, só hoje, 5 pessoas foram contempladas com mordida de sanguessuga, e na hora de dormir, ao fazermos o ritual de busca por bichos, tivemos que caçar uma aranha relativamente grande, uma batata, e uma mariposa (além dos insetos normais)... Sim, desafios que fazem parte do pacote!

Clara, escrevendo sobre o dia 24 de setembro de 2022, sábado.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Chuva e Heaven Hill

Hoje foi um dia curioso... Com muita chuva e muita reflexão.

Ao sair do quarto, dei de cara com os Himalaias. Aqui, eles são muito mais aparentes do que na primeira escola. Não durou muito tempo porque logo ficou nublado, mas deu para ver um pouco.

Começamos o dia com uma dinâmica de grupo, entre os voluntários. Fizemos, em grupo, a meditação Hare Krishna. Claro que escolhemos sentar em um lugar que tivesse vista para as montanhas. A dinâmica durou uns 30 minutos. E foi bem bacana. Quando terminamos, que eu abri os olhos, tinham algumas crianças paradas olhando para nós...

Como a escola está na semana de provas / exames, não adiantava chegar lá cedo. Então, fizemos um tour com Shamser (sim, o "big boss" estava conosco) pela redondeza e aprendemos algumas coisas interessantes:

• A casa em que estamos dormindo é típica nepalesa, um único cômodo, redonda, feita de pedras. O bacana é que as camas estão dispostas de forma circular, com isso todos conseguem ver e interagir com todos. O banheiro fica em outra casinha, do lado de fora. 

• O lugar em que os voluntários ficam não é dentro da escola, como em Marigold, é em outro complexo de construção a uns 8 minutos da escola. A construção principal, onde comemos e onde fica a área de convivência, é onde Shamser nasceu e mora até hoje. 

• Perto tem um vilarejo bem pequeno, e mesmo assim tem umas 3 pagodas e 1 estufa pequena budista. Uma dessas pagodas é Radha Krishna Temple, acho que por isso a dinâmica no início do dia foi tão forte. 

• Além dessas 3 pagodas, pelo que entendi alguma família real nasceu e viveu na região. Com isso, passamos também por um pequeno Palácio Real com sua praça, Lamjung Durbar, e seu próprio templo, Lamjung Kalika Temple. Ou seja, comprovamos mais uma vez como no tempo em que Nepal era formado por vários reinos, cada um tinha sua praça (Dubar), com seu Palácio Real e complexo de templos. 

• No caminho passamos por um riachozinho MUITO fofo! Nele, tinha uma estrutura de concreto onde os reis/rainhas se banhavam.

Chegamos na escola, a Heaven Hill. A estrutura é completamente diferente da de Marigold. Eu diria que é mais "armengada" (gambiarra, para os não baianos). Isso porque o terreno é menor e deu a impressão que as coisas foram sendo construídas aos poucos, nos espaços que existiam. Fatos curiosos:

• Hoje a escola tem umas 230 crianças. 

• No passado houve uma enchente imensa perto da escola, no caminho de um vilarejo, durante a qual algumas crianças pequenas morreram porque estavam indo a pé e sozinhas para a escola, e era muito pequenas pra poderem "se salvar". Com isso, Shamser construiu um jardim de Infância pequeno nesse vilarejo para que os pequenos não precisem ir andando até a escola e correr o mesmo risco. Quando eles crescerem, vão para o Heaven Hill. 

• A escola possui 3 alunos com síndrome de Dow e 1 aurista. Antes, essas crianças ficavam, literalmente, presas dentro de casa pois ninguém sabia como lhe dar com ela. Shamser convenceu as famílias para levarem as crianças à escola e hoje elas são integradas.

• Hoje Shamser está tentando construir uma biblioteca na escola. Ele já montou a estrutura mas, como está sendo construída com dinheiro próprio ou doações esporádicas, a construção está lenta. A ideia é tê-la aberta 24 horas, todos os dias. Durante o período escolar, abrir apenas para os alunos da Heaven Hill e, nos outros horários, abrir para a comunidade.

Fizemos a aula sobre Primeiro Socorros. Foi bem mais interativo do que na primeira escola. Depois ficamos sabendo pelo Ben (o americano voluntário que também estava em Marigold) que aqui na Heaven Hill as crianças falam inglês melhor e estão mais acostumados com estrangeiros voluntários. Voltando para a aula, foi divertido pois desta vez chamamos diversos alunos para simular cada uma das situações. No final, chamamos um dos professores, e os alunos riram horrores!

De lá fomos para a sala dos pequenos. A sala é LOTADA, e pequena! Mau aparecemos e já nos chamaram para participar, interagir, dançar... Uns queridos!

Por fim, não podia faltar: aqui também tem o "processo disciplinar", mas um pouco diferente. Tem uma outra música no lugar de "cabeça, ombro, joelho e pé", a segunda música é Macarena igual à Marigold e, na parte dos movimentos, a sequência é diferente (sim acompanhei tantas vezes que consegui identificar diferenças... KKKKKK).

Voltamos para almoçarmos com o intuito de à tarde retornar à escola para começar a pintura. Quem disse? Caiu um toró, uma chuva absurda, que não tinha condições de ir para a escola e/ou de fazer qualquer atividade lá. Com isso, fomos todos para a casa redonda, fizemos outra dinâmica de grupo e jogamos alguns jogos divertidos.

De noite, após o jantar, o grupo de mães da escola foram lá para fazerem uma apresentação para nós. Foi interessante, até que depois de 30 minutos vimos que seria sempre a mesma música, com apenas 1 dançando (elas se revezavam), e a dança também sempre a mesma... Aí, para mostrar algo em português / do Brasil, dançamos "Olha a Onda" (MICOOOO). Sabemos que é antiga, mas é uma música / dança que todos sabiam e é boba, não afetaria eles ou a cultura nepalesa... No final, elas trouxeram um presentinho para nós: pintaram nossas testas e colocaram um lenço no nosso pescoço. Ainda não sei o significado disso, mas foi bem bonito e bacana!

Clara, escrevendo sobre o dia 23 de setembro de 2022, sexta-feira.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Rumo à segunda escola

Bom dia!!! Dia de aventura rumo à segunda escola, Heaven Hill. Da Marigold dá pra ver ela, mas é no topo da montanha do outro lado do rio....

Acordamos cedo, tomamos café, fui lavar os pratos (tem revezamento e era minha "escala"), juntamos as roupas e fomos pegar o ônibus para Besisahar. Antes de irmos, ao nos despedirmos dos voluntários que estavam na escola, me surpreendi com a declaração da russa. Nós tivemos pouquíssimo contato com ela. Primeiro, ela estava em voto de silêncio. Depois, era o jeito dela mesmo... Enfim, quando ela veio se despedir, ela fez um discurso lindo, dizendo que não interagiu muito por ser tímida, mas que ela tinha gostado de ter nos conhecido, de ver nossa alegria / alto astral o tempo inteiro, e que tinha aprendido conosco. Foi bem fofa! E Alina, a alemã... Outra fofa! Sentirei falta dela!

Pegamos um ônibus regular da região, então vocês imaginam como foi raíz / exótico. Como foi cedo (9h), fomos os primeiros a entrar no busu, e pegamos os lugares perto de janela aberta. Ainda bem, pois pensem em um dia com sol a pino, em um ônibus com poucas janelas e lotado... Estávamos pingando de suor logo nos primeiros 25 minutos...  Rapaz... Pensem numa viagem peculiar... Cadeira bem dura, joelho batendo no banco da frente, sem cinto de segurança (para quê?), as malas no meio do ônibus, sem qualquer ventilação... Para completar, uma estrada maravilhosa!!! O único trecho que vi um protótipo de asfalto foi em uma região do exército. Fora isso, terra, pedregulho, buracos... Sacolejo o tempo inteiro, parando de tempos em tempos para pessoas entrarem e saírem... Bem raíz mesmo!

Chegamos em Besisahar, deixamos as malas em um hotel, e fomos almoçar em um restaurante que tinha batata frita, pizza, hambúrguer... KKKKKKK Posso dizer que matamos a saudade de comidas ocidentais! Detalhe, pedimos pizza de queijo e, quando chegou, estava CHEIA de guere guere... Vocês imaginam minha cara... Parecia uma pizza vegetariana... Mas aí perguntei se rolava uma pizza só de queijo, e deu certo. Depois fomos no mercado, compramos algumas coisas e fomos para o hotel para pegar as malas e o ônibus.

A estrada do segundo trecho foi menos pior do que a do primeiro. Mas o ônibus estava bem mais lotado, tanto que nossas malas foram em cima. Outra coisa que foi diferente foi a trilha sonora... Ligaram o rádio, alto, e o trecho inteiro foi com música nepalesa. Logo quando entramos no ônibus, fomos direto para o fundão.  Aí foi aquela zoeira, com dança e cantando música. Quando olhamos pra frente, os nepaleses não só estavam olhando como também estavam rindo e dançando junto...

Chrgamos na escola e fomos nos organizar no quarto. A estrutura é pior do que a escola anterior, com muito mais bichos... Ao mesmo tempo, tem banho quente! Como tudo na vida, tem lado bom e ruim! Jantamos e fomos dormir (ou tentar dormir)!

Clara, escrevendo sobre o dia 22 de setembro de 2022, quinta-feira. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Aulas especiais + último dia na 1a escola

Depois de uma noite absurdamente chuvosa, cheia de relâmpagos e trovoadas, o dia amanheceu com sol. Mais uma vez fomos presenteados com a vista para parte dos Himalaias! Hoje foi nosso último dia na Marigold School, e tínhamos várias coisas programadas para fazer!

Não conseguimos fazer a dinâmica de grupo, e já começamos a preparar internamente as aulas que seriam dadas no dia. Antes da aula, alguns voluntários foram ajudar a tirar fotos de algumas das crianças para as quais será feita uma campanha de apadrinhamento (nem vou explicar aqui porque já conseguimos padrinhos e madrinhas para todas as crianças). E para fazer elas sorrirem / fazer pose para as fotos? Tivemos que ser criativos... KKKK

Depois, seguimos para a primeira aula na qual falamos sobre higiene pessoal. Nos dividimos em 2 grupos para falarmos em 3 salas (um grupo com a turma dos menores, na qual eu fui, e o outro com 2 turmas do Jardim de Infância). Gente.... Foi difícil dar a aula como planejado, não só porque as crianças não paravam quietas, como também porque precisávamos da professora traduzindo o tempo inteiro. Aí usamos a estratégia de ir 90% na mímica. Distribuímos as escovas de dentes e mostramos como fazer. Depois passamos um vídeo e ficamos dançando junto com o vídeo para mostrar o que a música estava ensinando. Aí voltamos para a mímica para recapitular as informações. Nos espalhamos, para falarmos em pequenos grupos de alunos, aí foi de arrebatar o coração... A sala é uma fofura só, sentamos para brincar com as crianças mostrando como escovar os dentes... Não sei como aguentei! Sim, dava para perceber que várias já tinham problemas com a falta de higiene bucal, outras que ficaram meio que olhando para a escova de dentes e se perguntando para quê serviam... Mas prefiro destacar o quanto foi bom e prazeroso fazer essa atividade com eles! No resto do dia, algumas dessas crianças vinham me procurar pra mostrar a escova de dentes ou mostrar como se fazia para escovar os dentes, coisas mais lindas!!

Depois do almoço tentamos fazer uma atividade com as crianças no "pátio" da escola para que Bruno, um dos voluntários, pudesse fazer algumas filmagens com drone. Rapaz, outra diversão! Estava um calor absurdo, duas meninas grudaram nas minhas mãos e íamos de cordinha de um lado para o outro, aí tivemos que mudar a atividade pois a ideia inicial não deu certo, mais distração com as crianças até resolver dudo... Teve uma hora que tropecei com as meninas, caí bem em cima do meu cox (que continua doendo), fui no céu e voltei de dor... Enfim, no final foram feitas algumas filmagens e depois Bruno vai editar...

Logo depois fizemos uma aula sobre educação sexual, voltada mais para reconhecimento do corpo e menstruação. Apesar dessa aula ser para meninas de 11 e 12 anos, aqui o conhecimento sobre esse assunto é bem delicado. Durante a conversa, por exemplo, várias meninas não sabiam nem o que era menstruação. Enfim, separamos o grupo de meninas do de meninos, e começamos a conversa. Tinham duas meninas super para frente e inteligentes na turma, eu já tinha interafido com elas: Sandea e Dipuna (escrevi como se fala). As outras super quietas, ficavam morrendo de vergonha para interagir. Quando falamos sobre partes privadas, sobre ninguém poder tocar nessas partes, aconteceu algo delicado... Elas começaram a falar entre si em nepalês. A falar muito mesmo... Aí perguntei se tinha algo que elas gostariam de compartilhar conosco, se poderíamos ajudar de alguma forma... Elas não quiseram compartilhar, aí incluímos na aula uma etapa em que elas poderiam escrever de forma anônima, em inglês ou nepalês, qualquer pergunta que iríamos escrever a resposta e entregar no dia seguinte. Como não estaremos aqui "no dia seguinte", compartilhamos depois com Alina, a alemã que está aqui há um tempo, e ela dará continuidade a esse trabalho. Enfim, no final aconteceram duas coisas lindas. Primeiro, a Karibu tem o costume de terminar essa aula com todas gritando "We are women, we are strong, we are important" 3 vezes. Aí depois elas repetiram, porém em nepalês. Ao terminarmos, elas nos perguntaram se poderiam dançar para a gente.... Coração não aguentou de novo. No início gravei um pouquinho, mas depois só curti. Aí começamos a tentar aprender, aí teve uma hora que Sandea me puxou pra dançar com ela... Foi lindo, e forte. No final estávamos todas do grupo de projeto emocionadas, chorando...

Quando as crianças foram embora (detalhe, a aula tinha acabado, mas todas as meninas ficaram conosco até terminamos a conversa e elas terminarem a dança), fomos concluir as pinturas da faixada do prédio. Aí começou a chover... Aí foi uma farra, banho de chuva, com direito a dancinha e tudo!!

De noite o Joel, marido de Joana (co-fundadora da Karibu) fez uma massa ao molho vermelho para a gente maravilhosa! Eu levei Bis para ser a sobremesa, e foi uma excelente forma de nos despedir da escola!

Momento abrir o coração... Essa experiência tem vindo com diversos desafios. Tenho saido completamente da minha zona de conforto desde quando entrei na Van pra vim para a escola. Tem a situação com meu cox, o banheiro delicado dividido com todos, o banho de água fria TODO os dias (tenho lavado meu cabelo dia sim, dia não), o lugar onde dormimos... Posso dizer? Depois de um dia como hoje, a troca que tivemos hoje tanto com os pequenos quando com as maiores, faz tudo isso valer e ainda sobra! É uma energia diferente! Ver nos olhos das crianças e das meninas a curiosidade, tentativa de assimilar o que está sendo dito, o interesse em aprender e a gratidão depois sendo demonstrada com um abraço ou um sorriso envergonhado, faz com que eu esqueça todo o resto!

Rumo à segunda escola!

Clara, escrevendo sobre o dia 21 de setembro de 2022, quarta-feira.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Aulas e mais pinturas

Outro lindo dia se iniciou aqui na escola! Sol a pino, calor, nuvens na cordilheira mas ainda assim uma linda vista!

O dia hoje foi bem puxado, cheio de atividades!Como atividade interna (só o grupo), fizemos uma dinâmica de comunicação na qual todos ficavam de olhos vendados, exceto 2 pessoas (1 em cada equipe) e tinha que ter uma comunicação / direcionamento sem palavras até que conseguíssemos jogar um lixo na lixeira. Foi bem divertido, e o mais legal é que ambas as equipes terminaram em tempos similares, e de forma rápida! Realmente o time do projeto está em uma sintonia muito bacana, e eu acho que essa dinâmica foi mais uma prova disso!

Na primeira para a escola, nos dividimos em 2 grupos e fizemos uma aula sobre sustentabilidade, baseada em RRR: Reuso, reciclagem e redução. Na sala que eu estava o pessoal começou tímido. Se soltaram quando Ralph, um dos meninos do projeto, foi ensinar a fazer um origami de um cubo. Mostramos alguns vídeos, fizemos alguns debates... Foi divertido!

Na hora do almoço, só tinha uma farofa doce com banana. Estava boa (eu mesma comi!), mas era doce, então fomos comer na casa da nossa amiga ontem. Foi no mínimo engraçado, dessa vez a filha dela que fala inglês estava lá mas, mesmo assim, a graça era tentar nos comunicar com ela. Não preciso nem dizer que Val se tornou a favorita dela, né? E Val também caiu de amores pela senhora (Amitra, o nome dela). 

De tarde tivemos outra atividade, uma palestra sobre primeiros socorros para alunos, professores e pais. Foi bem bacana também! Como é necessário ter treinamento para dar a palestra, aqui nós, voluntários, atuamos mais como atores para exemplificar a cena / situação!

Quando os alunos foram embora, voltamos para a atividade de pintura! Terminamos a sala das formas geométricas e fomos para a pintura da faixada da escola!

Mais um dia cansativo, com muitas atividades físicas e mentais, em um sol de rachar, abafado, nas condições limitadas da escola e, ainda assim, um dia maravilhoso! Que venha amanhã!

Clara, escrevendo sobre o dia 20 de setembro de 2022, terça-feira. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Trilha e pintura

Segunda-feira, porém feriado. Então deu para passear um pouquinho. 

Pela manhã o dia nasceu LINDO, sol, céu azul e os Himalaias aparecendo no horizonte (o topo de 3 montanhas, mas ainda assim, lindo!). Com isso, nós começamos o dia fazendo Yoga de frente para a cordilheira! Foi bem especial!

Depois arrumamos as coisas e fomos fazer uma trilha. No início disseram que era 1h30min até o topo da montanha, onde tinha uma torre. Mas esqueceram que falar que a subida era bastante íngreme. Resultado, quando deu 1h30min de trilha, ainda tinha um longo caminho até o topo, começou a chover, nós ainda tínhamos que descer tudo de novo, almoçar e trabalhar na escola. Então, parte do grupo resolveu voltar (eu inclusa) e parte seguiu a trilha.

Quando chegamos na vila, almoçamos em um restaurante local (não tinha ninguém na escola por causa do feriado). O restaurante, na verdade, era na casa de uma senhora que não falava inglês e, com certeza, nunca tinha atendido tanta gente ao mesmo tempo. As comidas, claro, eram nepalesas. Tentei novamente o Momo, mas estava apimentado; comi samosa de batata; e um macarrão que acho , se chama Shomi (falaram o nome mas não sei como se escreve).

Voltamos para a escola e começamos a tarefa do dia: pintura. Parte do grupo foi retocar a faixada da escola enquanto a outra parte foi fazer uns desenhos educativos dentro das salas de aulas. Eu participei do 2o grupo. Conseguimos fazer 2 salas, em uma colocamos os ângulos, na outra colocamos formas geométricas!!

Por fim jantamos e fomos dormir estávamos acabados...

Clara, escrevendo sobre o dia 19 de setembro de 2022, segunda-feira. 

domingo, 18 de setembro de 2022

Primeiro dia do voluntariado + Himalaias

Hoje é domingo e, aqui no Nepal, dia de escola! Isso mesmo, o dia de "descanso" no Nepal é apenas sábado (e às vezes sexta à tarde), então hoje foi dia de conhecer não só a escola como também os alunos!!

Antes de descrever sobre o dia, preciso falar sobre o que estou fazendo aqui. Durante a pandemia, fui apresentada à empresa Karibu por minha irmã Taís. A Karibu promove trabalhos voluntários em diversos lugares do mundo. Ao ver os projetos, eu me encantei com o do Nepal. Depois de falar com diversas amigas, Val não só topou a ideia, como também se apaixonou pelo mesmo projeto. Resultado, estamos aqui!

O nosso voluntariado vai durar 10 dias. Realizaremos atividades em duas escolas, tanto na Marigold School (onde estamos agora), quanto na Heaven Hill Academy que fica próxima). Ambas as escolas são privadas, porém 100% gratuitas. Ou seja, o governo não ajuda em nada (até atrapalha). Quem idealizou, inicialmente, investiu com dinheiro próprio e hoje gerencia essas duas escolas e mais outras 2 é uma pessoa chamada Shamser Thapa. Atualmente ele consegue dinheiro através de apoio da ONG alemã 264, além de doações spot diversas. O objetivo dessas escolas é dar educação de qualidade, não violenta, de forma 100% gratuita (nas escolas gratuitas do Nepal, os alunos precisam pagar coisas por fora como uniformes e material escolar) e sem fazer distinção de casta. A região em que as escolas estão tem como maioria os "intocáveis".

O dia começou com um grupo pequeno (incluindo eu) indo até o vilarejo pra comprarmos frutas. Na volta tomamos café e acompanhamos o início das aulas: no pátio, todas as crianças ficam em fila, e fazem umas atividades de disciplina. Perguntei o que significava e Ben, um americano que está trabalhando como voluntário aqui há mais de um mês, explicou que isso vem dos militares  e que foi decidido manter não só porque todas as escolas do Nepal fazem, mas também para incentivar a disciplina. Antes, tiveram danças (macarena, "cabeça / ombros / joelho / pé" e uma dança linda nepalesa que ficamos imitando) e depois eles cantaram o hino. Foi emocionante... As crianças TODAS arrumadas, sorrindo, as meninas TODAS de duas tranças com laços nas pontas...

Depois tivemos uma palestra / conversas com o Shamser Thapa, gestor do projeto. Ele falou muita coisa interessante, seguem alguns destaques:

• A primeira escola ele construiu do zero com dinheiro próprio, para apenas 17 alunos;

• Hoje ele tem / gerência 4 escolas, com um total de 400 alunos;

• Quando ele assumiu a Marigold School, eram apenas 30 alunos. Hoje são +/- 150. 

Ao terminar a palestra, fomos passear pela vila, dessa vez o grupo inteiro para explorar alguns detalhes, incluindo comidas. Experimentei algumas, não rolou todas por causa do apimentado.

Voltamos para a escola, almoçamos e fizemos uma primeira interação com as crianças: 2 pessoas ficaram em cada classe, para ver um pouco da metodologia e ajudar no que fosse possível. Na primeira aula, Maria e eu entramos na turma dos mais velhos, que possui um total de 7 alunos (6 meninas e 1 menino). Logo quando entramos, eles nos receberam falando algo que não entendemos... Sentamos, e eles continuaram a aula. A menina que estava do meu lado estava com muita vergonha... Nessa turma confesso que não sabia o que fazer, pois eles misturavam inglês com nepalês e era bem difícil acompanhar.

Quando terminou essa aula, Maria e eu fomos para a turma dos pequenos.... Aí meu coração não aguentou... Cheguei quieta, cautelosa. Ben que estava dando aula, aí perguntei como poderíamos ajudar, e ele disse que era só pra brincar. Para quê? Os meninos começaram a se aproximar, perguntar nossos nomes, começamos a interagir e quando fui ver tinha um monte de crianças ao meu redor, eu carregando uma por uma, e chegou o líder do projeto, Shamser Thapa, pra colocar ordem na sala... Aí fui perguntar, não era para brincar? Me responderam que era para brincar em ordem... Morri de vergonha! Sentamos com todas as criança, e Ben iniciou uma brincadeira para cada criança escrever nomes de animais, depois de cores. Sentei do lado de um pestinha fofo. No início nos comportamos, mas depois a classe começou a querer brincar de forma desordenada novamente, aí Maria e eu achamos melhor sair da sala. Mais tarde Ben chamou para apoiarmos na brincadeira de batata quente, aí foi uma curtição maravilhosa! Brincamos também de estátua e de morto vivo! 

No final das aulas os alunos fazem o mesmo "processo disciplinar" (não sei como chamar) e vão para suas casas. Enquanto isso, a equipe voluntária foi pegar bambú para uma tarefa futura na escola. Rapaz.... Bambus IMENSOS e pesados. Chegamos na escola acabados, aproveitei para ir direto pro banho (gelado). Duas coisas aconteceram nesse percurso: a primeira, finalmente vimos um pedacinho da cordilheira do Himalaia! A ponta da montanha com a neve infinita no início se confundia com as nuvens, mas depois dava pra identificar direitinho. A segunda... Bem, levei uma queda feia... Escorreguei no limo e a pedra bateu bem no cox . Rapaz fui no céu e voltei! 

De noite jantamos, ficamos cantando, jogando Unu, conversando sobre as experiências e planejando o dia seguinte! 

Clara, escrevendo sobre o dia 18 de setembro de 2022, domingo.