terça-feira, 13 de setembro de 2022

Chá de Masala e templos

Hoje o dia foi intenso. Não porque visitamos varias coisas, mas porque tudo foi vivido intensamente!

Como o dia amanheceu ensolarado, resolvemos ir para uma das cidades próximas que dá para ver a cordilheira do Himalaia: Chandragiri Hills, que fica a 45min de Katmandu. Lá você paga USD 22,00 para subir o bondinho (cable car) até a estrutura em cima das colinas (que chegam a uma altura de 2.500 metros). Em teoria, de lá seria possível ver as montanhas, inclusive Annapurna e Everest. À medida que o bondinho subia, íamos nos aproximando de uma nuvem que estava cobrindo o topo da Colina. Ao chegarmos lá, a tristeza: não dava para ver nada. Ainda assim, deu para curtir o lugar, que também possui um templo hindu que, para entrar, precisa tirar os sapatos. Na volta à base, fizemos a primeira amizade do dia: desceram conosco um casal nepalês, a mulher começou a puxar assunto e, Val que já não gosta, começou a conversar. No final estávamos os 4 morrendo de rir, falando um monte de besteira...


Na volta, o carro nos deixou direto em Swayambhunath / Swoyambhu Bhagwan Pau, também conhecido como Monkey Temple devido à imensa quantidade de macacos que fica passeando por todo o complexo (ATENÇÃO: não fique com comida na mão perto deles. Vimos um macaco ir para cima de um garoto e roubar um sorvete!!). Localizado no topo de uma colina, Swayambhunath tem uma vistas maravilhosa da cidade de Kathmandu. O complexo possui diversas estupas e templos budistas e hindus. No centro, a construção (de quase 1500 anos) que mais chama a atenção é uma típica estupa budista, com uma grande torre dourada e os olhos de Buda pintados no topo, nos quatro lados da torre, olhando por todos. Para os budistas tibetanos, essa é a segunda estupa mais sagrada de Katmandu, depois de Boudhanath. De acordo com a lenda local, o vale de Katmandu antigamente era um lago. Desse lago, uma flor de lótus, plantada por um antigo Buda, teria nascido e brilhava fortemente, atraindo pessoas a venerar tal luz milagrosa. Essa flor ficaria exatamente no lugar onde hoje está Swayambhunath. Quando um Deus secou o lago, a lótus teria ido parar no topo de uma colina e se transformado numa estupa. “Swayambhu” significa algo como “o que se auto-criou”. Normalmente ao redor das estupas ficam pequenos cilindros de reza, que devem ser sempre giradas em sentido horário enquanto você faz a prece e rodea a estufa, também no sentido horário.


Agora sobre nossa experiência lá. Assim que chegamos, claro, os macacos chamam a atenção. Tentei tirar fotos com alguns, mas não deu certo. Depois de explorar parte do complexo, que é CHEIO das bandeiras coloridas do Nepal (falarei sobre elas em outra postagem), paramos em uma das vendas para ver o artesanato. A nepalesa que me atendeu é um amor! Não recordo o nome dela, mas ficamos conversando um tempão. Ela me explicou coisas bem interessantes sobre alguns dos itens do budismo, como por exemplo o healing bow / singing bow, a importância da sua vibração no processo de relaxamento, prece e cura. Também mostrou como a maioria dos itens possuem os dizeres "God give long life". No final, claro, acabamos tirando foto. Falando em foto... KKKKKK, enquanto estávamos lá, 3 seres humanos (achamos que indianos) acabaram me pedindo para tirar fotos com eles. Igual a quando aconteceu na Jordânia e Egito mas aqui, segundo eles, é porque eles não estão acostumados com loiras (sim, virei loira aqui...). O mais engraçado foi a última abordagem, veio um cara de forma muito educada explicar que um amigo dele queria tirar foto, porque nunca tinha visto uma loira de perto, e quando falei que tiraria a foto, vieram 4 pessoas!!! Fiquei sem graça...

Último detalhe sobre o complexo: existem duas formas de chegar lá, por uma ladeira (acessível por carros) e por escadas (365 degraus). O táxi nos deixou no topo da ladeira e na saída descemos pela escadaria!

Ao sairmos de lá, pegamos um táxi (divertidíssimo, colocou música local e ficamos dançando e tentando cantar a música) e fomos para a Durbar Square de Katmandu. Lá, ligamos para o guia Krishna (9841286506, gente boníssima, fala inglês direitinho e de fato conhece a história) para fazermos o tour pela praça.

Como falei ontem, a praça tem MUITOS templos, em sua grande maioria ligados ao hindu. Eu poderia escrever sobre cada templo, mas vou preferir descrever os fatos mais interessantes que aprendemos com Krishna:
• Antes de saber dos detalhes da Durbar Square de Katmamandu, importante saber sua origem. Durante séculos, o Nepal foi um conjunto de pequenos reinos independentes. Perto de cada
Palácio Real, os reis ordenavam a construção de uma grande praça, a Durbar Square, que
eram repletas de estátuas, fontes, jardins e, claro, templos. Muitos templos, dedicados a deuses e deusas locais. No vale de Katmandu existem 3 principais cidades com suas respectivas Durbar Square: Katmandu, Patan e Bhaktapur, todas incluídas na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO.


• A praca Durbar é onde ficam os principais templos hindus da cidade de Katmandu, assim como o antigo Palacio Real.
• Apesar de grande parte da área ter sido danificada pelo terremoto desastroso que atingiu o Nepal em 2015, muita coisa já foi reformada e/ou reconstruída .
• Kumari-Ghar temple: é a casa de Kumari, ou "deusa viva", considerada encarnação da deusa Taleju. A Kumari tem que ser uma criança perfeita, sem nenhuma cicatriz, com dentes e pele perfeitos. Ela é sempre escolhida de um mesmo vilarejo, para representar a Deusa, e se muda para o templo, onde vive meditando. A criança perde o posto quando menstrua, perde sangue em um acidente, ou adquire certas doenças, e então uma nova criança é escolhida. Todo dia, às 16h, o templo é aberto e pode ser visitado. A parte externa possui diversos detalhes trabalhados manualmente em madeira, muito bonito.
• Kashmandap temple: é o mais antigo. Acredita-se que a construção original foi feita de um único tronco de árvore, e sua tradução seria algo como "casa de madeira". Ele foi completamente destruído no terremoto de 2015, mas já foi reconstruído. Dizem que o nome Katmandu foi uma consequência do nome desse templo. Dentro do templo, no passado, era onde ocorriam mercado de troca, temperos apimentados (produzidos no Nepal) por sal (geralmente vindo do Tibet), e a rua que passa na frente do templo levaria até tal país.
• Maju Dega: templo destruído durante o terremoto e não foi reconstruído. Um dos vários templos de Shiva, esse era também conhecido como templo dos hippies.
• Erotic Temple (não achei o nome original, mas Krishna chamou esse templo disso): possui 48 posições do KamaSutra esculpido ao redor do templo. Foi construído com o intuito de ser educacional, pois na época o Nepal precisava aumentar a população para ficar "forte" e evitar invasão da China e/ou Índia!

• Shiva tem dois templos abertos (monumentos), próximo um do outro, bem interessantes: as representações das reencarnações branca e preta do Deus. Na segunda, se alguém mentir na frente do monumento, vai ter como castigo vomitar sangue.
• Cada Deus possui um animal que usa como transporte. Por isso sempre na frente / próximo ao templo tem estátuas de animais "guardando" o templo (leões, touros, porcos...).
• O hinduísmo existe no Nepal há mais de 5 mil anos. Antes, não tinha nenhuma religião na região do país.
• Shiva, o "Deus de tudo" tem DIVERSOS templos na praça, justamente por ser o mais importante.
• Cada templo aberto tem um sino, para que as pessoas toquem para acordar o Deus / a Deusa do templo "dizendo" que está prestando homenagem. Já os templos grandes fechados não possuem sinos porque essa adoração é "mostrada" pelo ato de entrar nos templos.
• Os monumentos hindus são as padogas de 4 lados, os do budismo são as estupas.
• Em um dos extremos da praça está a árvore sagrada. Isso porque, no passado, Buda teria meditado embaixo dela.

• Nesse mesmo extremo da praça é possível ver três templos com influências diferentes em sua arquitetura: hindu, indiano e budista (foto abaixo). 

Durante o passeio conversamos tanto com Krishna que, no final, ele nos chamou para tomar um chá nas escadaria de um dos templos (vários nepaleses fazem isso), e o fizemos. Provamos o famoso Masala Tea, feito de leite, chá e açúcar. Enquanto isso, aprendemos que ele era morador de rua, aprendeu sozinho a falar inglês e a ser guia. Hoje mora em uma cidade vizinha e vai andando de lá até Katmandu para trabalhar como guía. Como é longe (2 horas de CAMINHADA cada trecho), ele só vem para a capital 4 vezes na semana. Detalhe, ele cobra menos de USD 10,00 por pessoa, e ficamos com ele praticamente um turno. Detalhe dois, ao final, ele não deixou pagarmos o chá...

Resolvemos voltar andando para o hotel, curtindo as ruas e vendo as lojas. Nessas andanças, passamos na frente de uma loja de chá. Achamos tão interessante que entramos para ver o que tinha. Conversa vai, conversa vem, o dono da loja (Pradip) começou a explicar as coisas, as diferenças de incensos, apresentou o sal preto do Himalaia (eu não conhecia, tem gosto de ovo!) etc, que de repente ele nos convidou pra tomar chá de Masala na loja dele. Aceitamos e ficamos conversando mais um tempão. Novamente perguntamos o valor do chá e ele recusou, disse que era cortesia dele (sendo que vimos ele pagar pro cara que trouxe os chás).


Gente... Não tem como descrever a hospitalidade do povo Nepalês. Sim, tem aquelas abordagens bem insistentes, chatas, que você tem que fechar a cara e dizer não, se não eles não largam vocês. Existem várias abordagens de crianças para pedir dinheiro que dá pra sentir que é uma interesseira, no esquema que existe aqui para as crianças conseguir "doações" e depois dar para adultos. Mas também tem as abordagens genuínas, de pessoas que querem conversar, te conhecer, ajudar... É indescritível! Uma energia tão boa, que você se sente em casa e nem vê o tempo passar! Hoje posso dizer que conhecemos pelo menos 4 pessoas assim, com essa energia genuína de pessoas do bem!!!

Voltamos para o hotel, tomamos banho e fomos jantar no Black Olives Café & Bar. É um desses restaurantezinhos aconchegantes do Thamel, iluminados por luzes de velas, gostoso. Eu comi um frango básico, já Val provou um dos pratos típicos, Dal Bath (arroz com lentilha).

Clara, escrevendo sobre o dia 12 de setembro de 2022, segunda feira. 

9 comentários:

  1. Quanta história !!! Relato muito rico!! Vão ficar especialistas em chá rsrs . Bjs
    Mãe

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  2. Adorei! Haja chá!!! Haja Templo, muito legal! Adorei a história do Guia tb

    Bjs Priscila

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    1. Velho, templos em todos os lugares, país muito voltado para a fé mesmo! E o chá, pelo menos é bom!! Beijos

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  3. Aconteceu algo comigo parecido disso da vista uma vez que fui no Cristo no Rio de Janeiro.
    E isso de macaco roubando comida rola também num parque aqui em Brasília.

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  4. Ehh saudades dessa viagem!! O bom de ler agora q tô revivendo Td! Amando
    E será que nossos amigos do bondinho estão com saudades de “acorda Pedrinho que hj tem campeonato”? Kkkk
    OBS: tô fazendo masala tea direto

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  5. Ahhh…esqueci de falar q era eu …mas nem precisava ne! Kkk
    Val

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