quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Terceira praça Durbar e Kumari

Fomos conhecer a terceira praça Durbar, a de Patan, que fica na cidade de Laliptur (do lado de Kathmandu). Lembrando que são 3 cidades importantes no Vale de Katmandu, e cada uma tem sua praça da época em que cada uma delas tinha seu próprio rei... 

O primeiro destino foi a Praça Durbar em si. Sim, também tem uma taxa a ser paga para acessá-la, o equivalente a USD 10,00. Aqui eu tive o primeiro impacto: o que a diferencia das outras é que em Patan a praça e os templos (pagodas e estupas) estão completamente misturadas / "entrenhadas" / no meio das casas residenciais. Não tem uma "região antiga" ou concentração dos templos. Mesmo a praça Durbar, você olha para os lados e vê prédios e casas residenciais.

O objetivo era explorar a cidade, então não pegamos guia. Até porque, a essência é a mesma: tem os templos hindos (pagoda), Shiva é o principal, tem as estupas budistas, cada Deus (e/ou sua reencarnação) com seus respectivos templos, o Palácio Real... E também queríamos andar por nós mesmas, nos perder e nos encontrar pela cidade. Foi o que fizemos! 

Começando pelo Palácio Real! Entramos nele, fcamos explorando-o e sentindo o local. A praça interna dele é imensa. Pelo que pesquisei, sua Praça do Palácio é a mais antiga das três cidades.

Claro que também andamos pelos templos da Praça. O que tinha diferente aqui é que foi possível entrarmos em 2 dos templos, subir as escadas e ver a vista (nenhuma outra cidade fizemos isso). 

Depois fomos para Hiranya Varna Mahavihar, também conhecido como Golden Temple, um templo e monastério intocado pelo terremoto de 2015, datado de 1409 e que (dizem) é uma das construções mais impressionantes de Patan. Leva este nome por sua estrutura de ouro que brilha muito. Ele não fica na praça Durbar, mas fica próximo, dá para ir andando tranquilamente. Essa caminhada reforçou a impressão inicial que eu tive de que em cada esquina tem algum monumento, de qualquer tamanho, no meio das casas e ruas. Como fomos sem guia, seguimos o caminho do Google Maps. Tenho certeza que não fomos por um caminho turístico, o que foi sensacional!

Chegando no Golden Templo, dois seres humanos nos abordaram, afinal, duas gringas andando pela cidade, o que mais aconteceu foi gente se aproximar para ser guia ou pra vender coisa. Então isso não só era normal, como estava acontecendo em uma quantidade bem maior pelo fato de estarmos sem guia nem nada, e por isso nem perguntamos os nomes. Vou chamá-los de "azul" e "baixinho" para facilitar a história. Assim que nos abordaram, fizemos o automático dizendo que não queremos nada, e tal. Aí o baixinho (que não falava absolutamente nada de inglês) saiu mosyrando que ele era a pessoa com quem deveríamos comprar os ingressos. Pedimos desculpas (baixando a cabeça, com as mãos juntas em oração), compramos os ingressos e entramos.

Gente, que templo lindo! Ele é grande, mas parece pequeno, pois é apertado (fica esmagado entre prédios residenciais). Pelo que entendemos, ele não fica aberto sempre mas como hoje é o último dia do festival de Indra Jatra, estava aberto. Quando estávamos ainda no início da exploração, o de azul veio nos abordar novamente. Falei pra Val que eu ia fingir que não sabia falar inglês e então ficaram só os dois falando e eu rindo e observando. Só que esse cara era muito chato, não sei explicar. Enfim, enquanto estávamos ainda no pátio, veio o Baixinho. De relance não o tinha reconhecido e, no automático, já fui dizendo não. E ele insistiu, e quando realmente olhei para ele o reconheci. Ele tinha ido atrás da gente para dar o papel do ticket de acesso. Pedimos desculpas novamente, claro, e seguimos o barco. Tiramos algumas fotos, e o de azul ainda no nosso pé, querendo explicar coisas mas dizendo nada com nada. A única coisas que de fato acrescentou foi que ele nos levou ao monastério (andar de cima), e então foi possível explorar uma outra parte do templo que, quando chegamos, só tinham 2 locais (isso mesmo, nenhum turista).

Enfim, o templo é realmente especial! Diversos detalhes maravilhosos, muito bem cuidado, e todo dourado. Só dá a sensação de ser apertado, isso me incomodou um pouco. No meio do templo apareceu uma tartaruga (isso mesmo) e até ela era dourada (juro)! 

Estávamos fazendo as últimas explorações do templo, e o de azul veio de novo. Sugeriu alguns lugres para tirarmos fotos e veio dizer que ele era dono de loja/escola de Thanka. Aí entendemos tudo! Eu ainda tenho que falar sobre isso aqui, mas já posso adiantar que todas as abordagens que fizeram conosco sobre Thanka foram as mais chatas... Enfim, ele ficou insistindo para conhecermos a escola, falamos que não iríamos, ele disse onde era a escola e foi embora.

Continuamos com as fotos e, quem chega? O baixinho! Dessa vez o reconhecemos! Ele ficou mostrando onde tirar fotos (lembrem que, se ele fala 15 palavras em inglês, era muito!), aí mostramos para ele que já tínhamos tirado fotos lá. Então ele começou a fazer poses no local, e fomos tirar fotos com ele. Ele ficou tão feliz, que começou a tentar conversar com a gente. De repente, ele começou a apontar para as fotos das Kumaris, pois o lugar em que estávamos tinha a foto das Kumaris de cada cidade (recapturado o passeio em Katmandu, Kumari é a Deusa viva, reencarnação da Deusa Taleju, garota pura que fica nessa "função" até menstruar, ou perder sangue ou ficar doente). Aí entendemos que ele disse que ia vê-la naquele momento e nos perguntou se queríamos vê-la também. Claro que aceitamos.

Rapaz.... Foi uma doideira, tudo muito rápido. De repente, estávamos indo atrás do baixinho pelas ruelas de Patan. Entramos em casas (isso casas), saímos em becos, passamos por corredores que definitivamente só locais passavam, e tudo MUITO rápido. O cara quase corria, e nós íamos atrás! E, detalhe, em nenhum momento ficamos com medo! Só mesmo impressionadas e sem saber exatamente o que estava acontecendo. Nessa caminhada pelas "quebradas" de Patan, vimos que de fato em cada esquina há um monumento, uma construção, uma adoração a algum Deus. Alguns bem cuidados, outros nem tanto, mas nenhum esquecido / largado. Enfim, ficamos nessa bem uns 10 minutos até que chegamos em uma casa, que tinha a imagem da Kumari, e ele começou a buzina (sim, tinha um aviso em inglês que intuía buzinar antes de entrar). Aí ele começou a apontar para nossos sapatos, tiramos os sapatos, entramos, subimos as escadas, mandaram lavarmos as mãos, lavamos, nos levaram para uma sala e ficamos lá. 

De repente, não é que Kumari de Patan chega carregada na sala e é colocada no trono / poltrona (sei lá o nome)? Ah, sim, carregada porque ela não pode colocar os pés no chão. Ficamos sem reação, não sabíamos o protocolo. Aí vimos o baixinho se ajoelhar diante dela, ela fazer algo com ele, e ele levantar (gente, tudo muito rápido, não dava pra processar). De repente ele olha pra mim e mostra dinheiro, como se dizendo que era para fazemos uma doação pra ela, e pra nós ajoelharmos em frente a ela. Peguei um dinheiro qualquer rápido e fui. Aí uma santa que falava um pouco de inglês disse que era doação para educação dela, que um dólar (+/- 100 rupias) já ajudava, que era só simbólico. Aí falaram pra eu ajoelhar, mas não sabia o que fazer... Foi ridículo... Aí entendi que a Kumari ia fazer o 3o olho na minha testa, aproximei minha cabeça, ela fez a marca na minha testa com o dedinho minúsculo (ela é uma criança MUITO pequena), aí ela me deu flores, disseram para eu jogar em cima da minha cabeça, fiz isso, aí disseram algo que não entendi (algo em relação aos pés dela, mas realmente não entendi), e me levantei.

Aí Val foi fazer o mesmo processo. DOIDO!!! MALUCO!!! No final o baixinho falou para ficarmos uma de cada lado pois ele ia tirar uma foto nossa com ela, e foi o que fizemos (mas claro, sem nos aproximarmos muito dela), e aí ela foi carregada e foi embora. 

Tipo... Oi???? Na saída fiquei olhando onde estávamos, e vi que tinham algumas indicações / cartazes de que ela vive lá e tinham horários de possíveis visitas... Mas, ao mesmo tempo, o próprio livrinho turístico que recebemos ao pagar o ticket da praça fala que a casa da Kumari muda de tempos em tempos e que "even a glance at the Kumari is considered to be good luck.". Ou seja, ao mesmo tempo que foi surreal, será que foi fake? Eu não consigo acreditar que é fake, esquema pra "pegar turista", até porque o lugar estava vazio, e USD 1,00 não é nada... 

Enfim, de lá fomos em um café chamado Ga Baha Cafe (uma delícia) e sentamos pra processar o que aconteceu... E uma coisa me chamou a atenção: dissemos não para o baixinho 2 vezes, e ainda assim ele veio com o coração aberto para proporcionar essa experiência diferente conosco... Mesmo a experiência de andar pelos becos e casas da cidade, já foi fantástico! Considerando que a Kumari era real, então.... Inexplicável! 

Depois voltamos para um templo pelo qual tínhamos passado com o baixinho pois o achamos bonito. Novamente a experiência de ter um templo grande, esse bem espaçoso, tendo uma pagoda e uma estupa na mesma praça. Praticamente como se fosse uma igreja pequena de bairro, mais aqui estava bem claro que aquela pracinha era do quarteirão, nem do bairro era, e ainda assim linda, absurdamente bem cuidada. Os detalhes das portas e janelas da padoga são indescritíveis. Fui procurar na Internet e eu acho, ACHO, que estávamos na Bidhyadharsarma Samskarit Yashodharvarma Mahabihar / Bubahal Digi (nomes tirados do Google Maps)! 

Próxima parada Pimbahaa Pukhoo / Buddha Stupa. Oficial, foi o lugar que eu mais gostei! Atenção, não é o templo que mais gostei mas o lugar que mais gostei de Patan! Ele tem uma estupa completa e grande, e fica em frente a um lago muito fofo, cujas construções de apoio são todas em estilo pagoda. E na lateral do lago ainda tinha um templo hindu, Shree Chandeshwori Mai (segundo Google Maps). Ou seja, mais um exemplo do convívio das duas religiões, no dia a dia da cidade (não tinha nenhum turista na região, só nós duas). Lugar lindo, encantador!

Por fim, terminamos o tour por Patan indo para uma das Ashok Stupa (Pucho Thoor). De acordo com o livrinho turístico que ganhamos na Durbar Square, o imperador Ashoka teria construído 4 estupas budistas no século 3 para delimitar a então cidade de Patan e por isso estão localizadas no norte, sul, leste oeste. Só visitei uma. 

Voltamos para Katmandu, nos organizamos e fomos nos encontrar com Raph e Joel (os suíços do projeto) para irmos para o festival de Indra Jatra. Hoje foi o dia de encerramento do festival, e além das celebrações em si, as Kumari de cada uma das cidades do Vale de Katmandu iriam "desfilar" em charretes enfeitadas (como se fossem carros alegóricos) pela praça Durbar e região.

Estava bem cheio, mas nada absurdo (especialmente quando minha referência é o Carnaval de Salvador). Foi possível circular com calma, ver algumas das oferendas, passar por diversas bandas de sopro que ficavam circulando com pessoas atrás. Foi bem bacana. Quando estávamos indo embora, não é que uma das charretes se aproximou e passou por nós junto com uma Kumari? Mas não sabemos dizer de qual das cidades ela era... Na volta ainda passamos por uma apresentação de dança que estava tendo (com os dançarino vestidos a carácter). 

Val e eu fomos jantar no Fire and Ice Pizzeria (pizza mais ou menos, e cara), e voltamos para o hotel. 

PS: perguntamos no hotel se o que vivenciamos em Patan com a Kumari era real ou faxe. Mostramos as fotos, inclusive a foto de "Baixinho", e o cara falou que em Patan isso poderia acontecer, sim. Que pela foto, baixinho de fato parecia ser da região. Ele não acreditou quando falamos que baixinho nem pediu dinheiro para nós levar até a Kumari. Mas, segundo ele, não era fake, não! 

Clara, escrevendo sobre o dia 14 de setembro de 2022, quarta-feira. 

5 comentários:

  1. Mari, que bom que gostou!!! Não sou muito de elaborar na escrita, mas tento registrar o que vivenciei para revisitar e reviver depois, sabe? Hihihi Beijosss

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  2. Muito legal. As ocorrências inesperadas sempre acontecem..,

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  3. Depois corrige um errinho de digitação "saiu mosyrando que ele era"
    adorei a foto com o "baixinho" :D
    E estou aqui também tentando entender o que aconteceu. kkk

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